quarta-feira, 15 de julho de 2009

A publicidade manda um beijo

Sua vida tá uma merda. Você procura por novidade. Quer facilidades, quer se sentir completa, quer ter o luxo daquelas modelos que quase afogam na banheira com tanto hidratante só pra passar a imagem de maciez. Você quer ter aquela família perfeita de propaganda de margarina que sempre se une pra tomar café da manhã, um papai - com sorriso branco e impecável - que não tem pressa pra ir pro trabalho, a mamãe que não berra pra você sair da cama, e filhos que acordam com o maior bom-humor do mundo dizendo "QUE DIA BELO! JÁ DISSE QUE EU AMO VOCÊS, PAPAIS?". Você quer impor sua liberdade, afinal você que tem 18 anos e já pode fumar! Veste-se de cowboy e se imagina cavalgando... por aí com um amigo gay? Ok, não foi um bom exemplo. Enfim, você quer tudo, só ainda não sabe que quer. É aí que nós, os malvados aspirantes a publicitários, entramos.

Além desses clichês já citados, Olivieiro Toscani, famoso fotógrafo publicitário (responsável pela arte da polêmica Benneton) em seu livro "A Publicidade é um cadáver que nos sorri", cita vários outros clichês que encontramos por aí nas publicidades de rua (ou de casa). Assim como ele, várias pessoas condenam, não só a publicidade em si, mas os indivíduos que a seguem como estudo ou trabalho. "Eles são a imagem do capeta!" ou "VOCÊS SÃO O DEMÔNIO TRAVESTIDO!" são coisas que vocês (também) devem estar cansados de ouvir sobre a gente. Estamos aí pra estimular o desejo, fazer com que todos vocês consumam, consumam e consumam. Aí que tá. Espera que eu vá defender esse ponto de vista? Nós realmente queremos que vocês morram no desejo, que gastem todo os seus salários com os produtos que anunciamos até perder a casa, a família, o cachorro, a sogra, ao ponto de você ir morar na rua e o cachorro mulambento lamber seu pé cheio de fungos por não ter mais sapatos e... tá, exagerei um pouco. Mesmo porque se você ficar pobre quem vai continuar consumindo o que anunciamos, né? Desculpe, desculpe. Caro leitor consumidor, compre! Isso vai te trazer felicidade, amor, alegria de viver! Olha só, você pode ficar pobre, mas você vai ser o homem mais viril do mundo com esse carro. As mulheres não vão te deixar em paz usando esse desodorante. E o relógio? Com ele não há como ficar mais sofisticado! E você, mulher? Com esse absorvente os homens notarão que você está mais leve. Usando esse perfume você denota a sua personalidade! E esse sabonete? Tem como ser mais mulher sem esse sabonete? Claro que não. Sem a publicidade o mundo não teria esse glamour todo. Falta de ética? Absolutamente não! Apenas uma forma certeira de venda que atinge o maior número de pessoas em menor tempo, e tempo é dinheiro, vocês sabem.

Nós construimos a atmosfera perfeita, desejos ao ponto de serem objetivos de vida, criamos produtos e pessoas sem defeitos, associamos valores indispensáveis em artigos que (talvez) não façam tão bem a saúde. Olhando por esse lado parece tão maquiavélico, não acham? Chega a ser engraçado... Ainda há aqueles que culpam a publicidade pelo alto índice de assaltos atualmente no mundo, afinal nós, vilões do planeta, injetamos alta taxa de desejo nas pessoas. Poucas pessoas sabem, mas injetamos também (juntamente ao desejo) um pouco de falta de caráter pra incitar as pessoas ao roubo e ao homicídio. Sensacional, não? Mesmo porque quem criou os ladrões e marginais em todo o mundo foi a publicidade, sabiam? Todos vieram da EMIRC ou Escola de Marginais Instruidos a Roubar e.. Cachorro, e o slogan é: "venha você também!". Até porque que mal tem fazer parte da indústria criminosa se dá tanto dinheiro, né? Se a Publicidade, que é o capeta, também existe, por que não posso roubar?

Entretanto, isso é somente uma lente que se usam pra falar da publicidade. E o outro lado da moeda? Que tal fazer ver a publicidade como uma potência alternativa pra pra divulgação de produtos que facilitam a sua vida até hoje?, ou como responsável por levantar a economia de um país? A publicidade como um grande difusor de idéias e ideais? Como acelerador na circulação de dinheiro, o que leva a maior geração de emprego? A publicidade como a autora do estímulo ao progresso ou até como o essencial elemento que faz o jornal, a rádio ou a televisão existirem? Porque sim, enquanto você assiste Grey's Anatomy (ou CSI, ER, Scrubs, Coldcase, Lost, 24h, Dexter, Heroes, House, ou qualquer programa decente a sua escolha) quem você acha que sustenta financeiramente todo o processo de criação e montagem? Simples: a publicidade. É ela que te apresenta produtos que hoje você não vive sem e facilitam em 100% sua vida atualmente. É ela que te tira do tédio de um domingo na televisão e é ela que não te faz lavar roupa esfregando no tanque até hoje.

Sei que isso tudo soa muito manipulador. Mas nem tudo é lindo no mundo capitalista, de acordo? O objetivo é a venda, independentemente do meio. Se criamos desejos é porque vocês os tinham antes dentro de si, porém retraidos, reprimidos, e a publicidade os ajudaram a enxergar isso. Estamos aqui pra ajudar e não pra insinuar consumo exacerbado, diferentemente do que muitos pensam. Tá, mentira, pronto, falei. Ninguém aqui é santo. A publicidade é uma máfia, o padre da sua igreja come criancinhas, a sua mãe DÁ SIM pro seu pai, e o mundo não é perfeito. Mesmo esquema: consumam até morrerem. Se houver alguma herança pra ser gastada com nossos produtos, melhor ainda. Até no funeral a gente marca presença. Você morre, e continua consumindo. Consome caixão, flores, lembranças, espaço, túmulo, etc. Tudo pela estética perfeita que a própria publicidade constrói. Você morre, e a publicidade manda lembranças: diferentemente de você, ela sempre vai existir, seja você a favor ou não.

E você, acha que a publicidade é a mais nova vilã da modernidade depois da Nazaré Tedesco ou acredita que ela (a publicidade, óbvio) seja uma das responsáveis pelo avanço e o progresso do mundo contemporâneo?

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15 Comentários:

Gabriel Rezende Mota disse...

Cara, a Publicidade é como a Maçonaria. Temos um segredo milenar que aprendemos na faculdade e somos "obrigados" a guardar até o dia em que nossas memórias se apagarem de vez.
Err... Tá.

Nós, publicitários, não somos os vilões. Fazemos nosso trabalho, assim como você faz o seu, a senhora sua mãe faz o dela... E na boa, de gente esperta esse mundo anda cheio. Não vale culpar apenas os publicitários. E para quem não conhece, existe o tio Conar que regulamenta todas as propagandas criadas. Se uma propaganda foi veiculada, é porque ela é normal, sem nenhum problema. Se você acredita na gente é porque conseguimos te convencer de usar determinado produto. Se conseguimos te convencer, é porque você tinha predisposição para isso. Simples e direto. A gente não obriga ninguém a consumir. Consome quem quer.

Achou ruim? Não compra roupa. Saia pelado por aí.
Jogue seu celular no lixo (descartando a bateria e a levando para o local seguro para recolhimento), pare de usar pasta de dente, de usar sabonete no banho... Não coma mais nada, a não ser que você mesmo plante. E, principalmente, saia dessa porra de internet, porque isso também é consumo!!

[cri]

Obrigado.

Michella disse...

Fala sério. adooooro seus textos. a interatividade com o leitor. e sem noção, persuasão total essa 'publicidade'. (?) hahaha

Pedro Lobato disse...

Ao contrário do que disse o Gabriel (em tom de brincadeira eu acho, hehehe) não acho que a Publicidade tenha O SEGREDO. Pessoas que tem o mínimo de bom senso sabem que a Publicidade é, de certa forma, manipuladora, cria desejos efêmeros e "controla" nosso dia-a-dia.

Eu por exemplo não tenho ilusão nenhuma de que estou sendo manipulado. Tenho consciência disso tudo:
"Sim, estou comendo Mc'donalds mesmos sabendo que ali na esquina tem um sanduiche igual e mais barato. Estou comendo a marca."
Mas e daí?! Eu gosto disso! Eu não quero sair por aí pelado, por isso prefiro comprar uma roupa da Calvin Klein e um sapato da Democrata. Eu gosto de vez em quando comer um lanche no Burger King...
Não me importo, eu compro se eu quiser. Ninguém me ordena o que quero consumir ou não. Vi, me interessei, gostei e comprei. Acabou!

A publicidade, e muito menos os publicitários, não são os vilões. Os "vilões" somos nós mesmos.

Ana Carolina disse...

Eu, como futura publicitária e defensora dos coitados publicitários (Risos.) acho que a publicidade é muito importante.
O que seria do seu papai ou da sua mamãe que trabalha para uma empresa que gerencia a fabricação de um certo produto, sem a "arte" da publicidade? Ia vender tão pouco quanto os divulgadores (=povo que usou e aprovou) falariam bem por ai.
O produto tem a cara que a publicidade dá a ele, mesmo que o produto não faça o mesmo "efeito" que faz nos atores/atrizes do comercial.
A publicidade faz você gostar das coisas mesmo antes de tê-las, sim! Mas se você não comprasse aquela maldita pasta de dente "que deixa toda a sua família feliz", você frequentaria a Imbra (que também tem um comercial bonitinho passando) e você faria um plano dentário da uniodonto (também passa na tv).. ou então ficaria cheio de cárie mesmo.

Oi, eu amo a publicidade. (=

Ótimo texto Pedro Vítor, parabéns.
beijos, @CarolinaMourao

Ciro Moraes disse...

Fora o dejavu causado em quem acompanha o LJ e sabe que o livro do carinha lá foi tema da resenha, é um ótimo texto.

Gostaria de defender o direito como o Pedro defende a publicidade...

E eu concordo plenamente com as opiniões expressas no texto, ainda que eu não seja assim tão otimista.

Pra mim tudo isso não passa de mais uma ilusão coletiva disseminada pela Rede Globo, a Cia e os Illuminatti, que visa a fechar os olhos das pessoas no que tange a esse modelo de produção excludente ao qual elas não conseguem deixar de fazer parte.

"Mal necessário" não é a expressão que eu gostaria de usar, mas estou com preguiça de pensar em outra...

beijosmesegue @aurelianoB

Leandro P. disse...

Estou pensando seriamente em terminar o meu curso de Engenharia Ambiental e LOGO DEPOIS começar Publicidade e Propaganda. Gosto demais das duas áreas, e sem contar que vou ter um puta dum currículo massa. :P
Há braços, me sigam: @leandroprudente

taciane disse...

massa o texto, boa argumentação... concordo em partes com você.
parabéns, beijos.

CarolMoreno disse...

Vou virar hippie.

José Abrão disse...

alguém acordou com o pé esquerdo

Luiza Costa disse...

A Publicidade é do maaaal.! #prontofalei

Guilherme Toscano disse...

HAHAHAHAHA que texto maldito é esse? Tá queimando o filme da minha profissão pra toda a juventude que acompanha esse blog!

Calma, pessoal. A publicidade é legal e a gente não obriga ninguém a comprar nada, talvez vocês tenham vontades que antes não tinham, graças a gente, mas não somos os demônios manipuladores de vida.

Pedro, você perdeu a chance de colocar uns links muito engraçados aí, foi sério demais nos links. :D

Riccardo Joss disse...

Publicitários mentem.

@jufromhell disse...

deu vontade de tomar Coca Cola.. *-*

thaís coelho disse...

Muito bom o texto. A Publicidade que move o mundo, fato!

Beto disse...

Bom texto... Gostei!

Abraço!

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